A dor é uma experiência humana universal. Todos nós já sentimos dor aguda em algum momento, seja uma torção, uma queda, uma cirurgia, um corte. Essa dor, geralmente, cumpre um papel vital: nos alerta para um perigo real, nos protege e dá tempo ao corpo para se recuperar.
Mas e quando esse alarme persiste, mesmo após os tecidos já estarem cicatrizados? Esse é o universo da dor crônica, um fenômeno que desafia não só a ciência, mas também a compreensão cultural e social sobre o que significa sentir dor.
Em pleno Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, falar sobre dor crônica é falar sobre vidas que muitas vezes são marcadas pelo sofrimento invisível. Trata-se de uma condição que não se vê em exames, mas que consome energia, relacionamentos e autoestima.
O peso desse estigma é tão real quanto a dor em si, e por isso a fisioterapia, como ciência do movimento e cuidado humano, tem um papel central em quebrar mitos, reeducar o sistema nervoso e devolver autonomia a essas pessoas.

Um dos mitos mais enraizados é a ideia de que dor sempre significa lesão. Por muito tempo, acreditou-se que bastava localizar o dano no corpo — por meio de uma radiografia ou ressonância magnética — para entender a causa da dor. Porém, a ciência mostrou que não é bem assim.
Estudos demonstram que alterações degenerativas na coluna, como abaulamentos discais ou fissuras, são extremamente comuns mesmo em pessoas sem dor. Ou seja, um exame de imagem pode mostrar alterações importantes, mas isso não significa que elas sejam responsáveis pela dor.
Por outro lado, pacientes com dores incapacitantes muitas vezes apresentam exames considerados “normais”. Isso nos ensina que a dor não se reduz a uma fotografia estrutural: ela é um fenômeno complexo, resultado da interação entre corpo, mente e contexto social.
Esse abismo entre dor sentida e imagem observada gera frustração tanto para pacientes quanto para profissionais. Como explica o fisioterapeuta Mateus Zardo (CREFITO 9/270344-F):
A crença de que a dor está sempre vinculada a uma lesão perpetua exames desnecessários e expectativas equivocadas de cirurgia ou de medicamentos milagrosos. Nosso papel é mostrar ao paciente que sentir dor não significa, necessariamente, estar se machucando.

Mas como entender esse fenômeno sem cair em explicações técnicas distantes? As metáforas cumprem um papel poderoso. Imagine um alarme de incêndio. Ele foi projetado para disparar apenas diante de fumaça ou fogo. No entanto, com o tempo, pode se tornar tão sensível que toca até quando alguém acende uma vela. É exatamente isso que acontece no sistema nervoso de quem sofre de dor crônica: os sensores de perigo (nociceptores) passam a responder de maneira exagerada a estímulos inofensivos. O corpo age como se estivesse em constante ameaça, mesmo sem dano real.
Zardo explica:
Uso essa metáfora do alarme com meus pacientes para mostrar que o problema não está na imaginação, mas na forma como o sistema nervoso processa sinais. O cérebro aprende a proteger em excesso, e é aí que precisamos intervir, reeducando esse sistema.
É nesse ponto que entra a Educação em Dor com base em Neurociência (Pain Neuroscience Education, PNE), uma estratégia terapêutica que vai além do exercício físico. Estudos mostram que, quando os pacientes compreendem como a dor funciona, tendem a sentir menos medo, menos catastrofização e maior capacidade de lidar com sua condição. Isso porque entender que a dor é resultado de um sistema de alarme superprotetor reduz a sensação de ameaça constante.
E aqui está a boa notícia: mesmo sendo complexa, a dor crônica é tratável. O manejo não se resume a repouso, opioides ou cirurgias, que muitas vezes trazem mais riscos do que benefícios. A ciência é clara ao mostrar que o movimento é o principal aliado. Exercícios terapêuticos estão presentes em todas as diretrizes internacionais de tratamento da dor crônica. Caminhar, alongar, fortalecer, retomar atividades gradualmente — tudo isso ajuda a dessensibilizar o sistema nervoso e devolver ao corpo a confiança para se mover.

Além disso, a fisioterapia trabalha com estratégias de exposição gradual. O paciente aprende que pode dobrar a coluna, carregar peso ou voltar a se exercitar de forma segura, sem se machucar. O processo é acompanhado, individualizado e respeita os limites de cada um. Não se trata de eliminar a dor de uma vez por todas, mas de recuperar função e qualidade de vida.
Outro aspecto essencial é entender que a dor sempre é real. Ela não é invenção, não é exagero, não é “coisa da cabeça”. A diferença é que, na dor crônica, o cérebro e o corpo estão interpretando o mundo como mais perigoso do que ele realmente é. Ao reconhecer isso, pacientes se libertam da culpa e começam a enxergar caminhos de enfrentamento.
Esse processo exige acolhimento e empatia. Não basta prescrever exercícios: é preciso ouvir, educar e caminhar junto. A ciência mostra que fatores como qualidade do sono, apoio social, gerenciamento do estresse e hábitos de vida saudáveis modulam diretamente a intensidade da dor. Por isso, um cuidado interdisciplinar, que una fisioterapia, psicologia, nutrição e endocrinologia, é a chave para resultados sustentáveis.
Sobre isso, Zardo conclui:
Em meio ao Setembro Amarelo, falar sobre dor é falar também sobre esperança. Muitos pacientes chegam à clínica descrentes, acreditando que não há solução. Mas quando entendem que podem recuperar o controle, que a dor não os define, nasce um novo horizonte. Como disse um paciente após meses de acompanhamento fisioterapêutico: ‘Não deixei de sentir dor todos os dias, mas voltei a viver, a sair, a trabalhar, a ser eu mesmo’.
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